Santuário de São Francisco das Chagas \1796
CANINDÉ
CEARÁ \ BRASIL
CEARÁ \ BRASIL
A pequena “Porciúncula
de Assis” do Brasil
Em meados do século dezoito, Canindé era um
aldeamento de índios vindos dos sertões de Monte-Mor. Não passava assim, de um
pequeno núcleo, lugarejo inexpressivo. Habitavam, todavia a vasta região alguns
fazendeiros que se estabeleciam nas cercanias, vindos à sua totalidade das
ribeiras do Jaguaribe e cujas terras lhes foram doadas por sesmarias.
Praticavam o pastoreio. A Ribeira de Canindé, local que veio a se originar na
atual região onde fica o Santuário de São Francisco das Chagas de Canindé, teve
sua origem como data o dia 27 de fevereiro de 1731, sob o livro 11 e a sesmaria
de nº 108 em favor da nação Canindé.
Canindé
e o Santuário de São Francisco
A origem desse Santuário se deu com a colonização
do Ceará que teve aliado as “Santas Missões”, andanças que eram feitas pelos
padres missionários, onde aconteciam missas, batizados, confissões e muitas
vezes de forma espontânea procissões, mesmo porque, as pessoas que estavam em
determinadas localidades, resolviam seguir o missionário como forma de purgar
seus pecados. Deste posicionamento, surgiu no Ceará, a prática das romarias e
procissões cujo objetivo era difundir a cultura religiosa do colonizador e ao
mesmo tempo, cristalizar os valores da civilização luso-europeia.
Origens
da ocupação dos Sertões de Canindé
São Francisco das Chagas é quem dá as boas-vindas,
na entrada da cidade de Canindé. A replica, em tamanho gigante, está sempre de
mãos estendidas e chagas à mostra, abençoando os romeiros que passam. Segundo o
historiador da região Augusto César Magalhães, a história do município não é
muito diferente da de outras cidades do sertão nordestino.
Depois vieram o cultivo da cana-de-açúcar e a
criação do gado, no século XVIII. Chegou à época em que gado e a cana-de-açúcar
não podiam mais conviver no mesmo espaço. O governo português emitiu um decreto
proibindo a criação de gado a menos de dez léguas do litoral. “Começou-se,
assim, o corre... corre para o sertão, dando origem ao que chamamos hoje de
unidades sociais do sertão: as fazendas” contextualiza Augusto.
Foi assim também que os missionários franciscanos
começaram a percorrer o sertão. E o povo ia se identificando com aquele
missionário pobre, trajando o hábito franciscano: “Eles viam aquela figura que,
para eles, era como se viessem à imagem de São Francisco. E se foi nesse clima
que se criou a devoção por São Francisco das Chagas”.
Nas pesquisas realizadas no livro do escritor
Pinto, descreve que as ocupações na região aconteceram com a entrada para o
interior, através das Ribeiras do Jaguaribe e do Acaraú, a região Centro-Norte
onde está Canindé, também foi sendo ocupados por fazendas, seus proprietários
possuíam sítios na Serra do Baturité e utilizavam-nas no período de chuva, fugindo
do frio e dos insetos que se proliferavam com a chegada das mesmas. Um desses
homens foi Francisco Xavier de Medeiros, cidadão português que veio de
Pernambuco para o Ceará numa dessas bandeiras de penetração para o interior que
junto com o tenente General Simão Barbosa, resolveram construir uma capela para
São Francisco.
Reza a lenda que, na construção da Basílica, um homem teria
despencado lá de cima, mas se valendo de São Francisco, ficou enganchado numa
das tábuas, livrando-se de uma morte certa. Canindé, assim como outras cidades
essencialmente religiosas, ganhou fama a partir dos supostos milagres ocorrido.
(Fonte: Expedição Jornalística Rádio O Povo 30 Anos. Fundação Demócrito Rocha.)
O conhecido ensaio estatístico da província do
Ceará, traz Senador Pompeu já em 1775 mencionando os sertões de Canindé como
ocupado por grandes fazendeiros e a construção de uma capela dedicada a São
Francisco das Chagas e que essa mesma capela por alvará d’El Rei D. João VI em
1817, ele afirma “(…) foi a capela de São Francisco então filial de Fortaleza
elevada à categoria de Matriz Colada, ordem cumprida pelo bispo de Pernambuco e
que em agosto do mesmo ano confirmou a colação do primeiro pároco da Freguesia,
o então padre Francisco de Paula Barros.
Atuação
dos missionários franciscanos
Na região de Canindé atuavam a partir de 1758
Freis Manuel de Santa Maria e São Paulo o qual em 1759 celebrou missa em Campos
na Casa da Fazenda de Antônio dos Santos e em Renguengue, Frei Bartolomeu dos
Remédios entre 1766 e 1770 e Frei José de Santa Clara Monte Falco de 1781 e
1800 que foi o grande incentivador da construção da Igreja de São Francisco das
Chagas de Canindé.
Com a construção da Igreja de São Francisco das
Chagas tornou-se natural a celebração dos atos religiosos nos grande dias da
Igreja, o lugarejo começa a crescer, pois dar-se início a construção de
residências em torno da edificação religiosa.
A
cidade hoje
Ela recebe milhares de devotos de São Francisco de
Assis todos os anos. O fluxo é maior de agosto a janeiro, quando é tempo de
alta estação. Não é por acaso que a cidade possui uma das maiores romarias
dedicadas a São Francisco.
Boa parte da renda do município vem do turismo
religioso. A importância do romeiro é tanta que, quando chega dia 3 de
fevereiro é celebrado o Dia do Romeiro.
Canindé é conhecido pelo motor romaria, procissão
que reúne aproximadamente 30 mil motos para fazer o percurso Fortaleza-Canindé.
A tradição é antiga, começou com alguns amigos e, em pouco tempo, tomou grandes
proporções. “É um fenômeno de fé que vem sobre rodas trazendo cerca de 100 mil
pessoas via BR-020”, conta. Na chegada, motoboys, moto taxistas e outros
profissionais liberais benzem os capacetes na Basílica.
As peregrinações também são recorrentes no
município. Grupos de até 300 fiéis fazem trajetos a pé para chegar à cidade,
totalizando seis mil pessoas por ano. Para pagar promessa, agradecer graça
alcançada ou pedir bênção, Canindé está sempre pronta para receber a fé das
pessoas. (Fonte: Expedição Jornalística Rádio O Povo 30 Anos. Fundação
Demócrito Rocha.)
Sabemos que há muito que melhorar na cidade;
tornar a romaria mais organizada, estruturar os espaços da cidade e do
Santuário, acolher melhor os nossos romeiros. Mas, São Francisco está aqui, e
saber disso é o que nos dar forças para continuarmos lutando por um lugar
melhor, para que cada vez mais se possa cumprir a sua missão na evangelização e
no acolhimento dos nossos irmãos e irmãs que fazem de Canindé a sua segunda
casa.
Primeira
Igreja de São Francisco, concluída em 1796
A primeira capela dedicada a São Francisco de
Canindé apareceu no tempo em que os portugueses colonizavam os sertões do Ceará
e no tempo em que a Coroa Portuguesa concedia terras (Sesmarias), como política
de povoamento. A exploração destas terras pelos colonizadores portugueses se
deu pela Serra de Baturité, onde moravam os colonos e por lá registravam suas
terras. No inverno permaneciam no sertão e no verão retornavam a Baturité, pois
possuíam sítios na serra e fazendas nos sertões.
A Construção da antiga capela data do ano de 1775,
foi iniciada pelo primeiro donatário das terras de Canindé, entre eles o
capitão Antônio Alves Bezerra. Em 1776, foram suspensos os trabalhos da capela,
devido à grande seca que então assolou a região. A antiga capela sofreu
diferentes transformações de 1775 a 1796, ano em que foi definitivamente
concluída. A construção não ocorreu de uma só vez pelos fatores já apresentados
e para comprovar havia registro de falhas na simetria e tortuosidade das
paredes que deixava claro que a sua construção fora demorada, passando por
diversas transformações em épocas diferentes, e que se remonta à antiguidade do
passado século, não podendo ser contestada a data de 1775 que lhe atribuídas a
relatos de históricos de pessoas ilustres da época.
O responsável pela construção da primeira capela
em devoção Franciscana, Francisco Xavier de Medeiros, viera de Baturité, era
cidadão português, filho de um português do mesmo nome. Seu pai era Capitão e
ele era Sargento-mor. O mesmo instalou sua fazenda à margem do rio Canindé, erigindo
uma capela sob a invocação de São Francisco. Xavier de Medeiros era um homem
religioso, pertencia a Ordem Terceira Franciscana, criada por São Francisco
para atender aos leigos que queriam seguir o mesmo ideal. Os terceiros
franciscanos figuravam também como pioneiros da colonização do Ceará.
Presença
franciscana
A propagação do culto franciscano nos sertões do
Ceará deve-se aos missionários franciscanos e aos terceiros franciscanos.
Destaque para a o fundador de Quixeramobim, Antônio Dias Ferreira, admitido ao
habito dos terceiros em 1734, sendo inclusive ministro da fraternidade. Vários
missionários religiosos atuaram na região de Canindé em 1758 Frei Manuel de
Santa Maria e São Paulo, (em 1759 este religioso celebra Missa e batiza em
Campos na casa da Fazenda de Antônio dos Santos e em Renguengue), Frei
Bartolomeu dos Remédios entre 1766 e 1770 e Frei José de Santa Clara Monte
Falco de 1781 a 1800. Este último foi o grande incentivador da construção da
Igreja de São Francisco das Chagas em Canindé.
Quando Xavier de Medeiros começou a construir a
capela do Canindé, a região era povoada mais de vaqueiros do que de famílias de
fazendeiros. A presença religiosa dependia do Pároco de Fortaleza que enviava
padres licenciados para que os moradores participassem dos sacramentos.
Os
missionários (religiosos) passavam pela região sem tempo planejado. É criada a
paróquia a 30 de outubro de 1817 e provisionada a 11 de outubro de 1818, na
pessoa do primeiro pároco, Padre Francisco de Paula Barros, Canindé passou a
ser regida pelo clero Diocesano até 1898, portanto por oitenta anos. A partir
de 22 de janeiro de 1898, à paróquia e o Santuário passaram a ser
supervisionados por uma comunidade de frades capuchinhos, atendendo o apelo dos
canindeenses de 1796.
Os capuchinhos governaram Canindé até domingo de Ramos de
1923, animando a comunidade por 25 anos. Os frades renovaram a vida religiosa
da região e estabeleceram toda a infraestruta para a prosperidade da religião
em Canindé. Trabalharam incansavelmente e deixaram o Santuário com a
suntuosidade que tem atualmente.
A
construção da Capela primitiva
A região de Canindé pertencia a Vila de Monte-Mor.
E que a Capela dedicada ao Santo Protetor foi construída pelo terceiro
franciscano chamado Francisco Xavier de Medeiros que era um seguidor corajoso e
já tinha experiência de povoar regiões desconhecidas. Por isso ele resolveu
construir a pequena capela. Sobre o assunto o historiador Feitosa faz a
seguinte afirmação:
“O sargento-mor português Francisco Xavier de
Medeiros, quando chegou a Canindé, fixou residência à margem do rio do mesmo
nome e resolveu construir uma capela dedicada a São Francisco das Chagas.
Medeiros não era proprietário do terreno; mesmo assim, tocou a obra de
conformidade com suas posses, disposto a compra-lo caso houvesse alguém que declamasse
a propriedade. Os proprietários eram três moços que moravam na ribeira do
Jaguaribe e, tendo tomado conhecimento de tal construção, embargaram-na por
meio de seus representantes.
Medeiros escreveu para os mesmos com intuito de
comprar uma parte do terreno, para ser doado ao padroeiro, tendo os
proprietários se negado a vendê-lo. Um deles adoeceu repentinamente e faleceu
em pouco tempo. O segundo teve a mesma sorte, e o terceiro, ao adoecer, fez
promessa a São Francisco, ofertando uma légua de terras, possivelmente as do
Salgado.”
Xavier de Medeiros não desanimou e vê terminada a
capela dedicada a São Francisco das Chagas. Com certeza ele tenha bebido a fé
no apostolado dos missionários que atuaram na região de Canindé, pois eles
andavam pela redondezas e nos locais em que não tinha capela eles celebravam a
missa, nas próprias casas.
A
importância da Igreja
Assim descreve o escritor Façanha: “Ao inciar o
século XIX, já eram tradicionais os festejos do santo franciscano. O povo de
Canindé resolve então enviar uma súplica ao Senado da Câmara da Vila de
Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, no sentido de que fosse criada uma
freguesia local para atender às necessidades do desenvolvimento do povoado.
Entre outras razões, evocava a da distância à sede
da capitania; a dificuldade que os cristãos tinham para ouvir o santo
sacrifício da missa; que haviam construído uma Igreja que bem se prestava para
matriz e que nenhuma outra religião poderia suavizar a vida dura que levavam no
sertão, a não ser a do Patriarca de Assis.“Atendendo ao que solicitava o povo
de Canindé, a Câmara encaminha devidamente a quem de direito, a justa súplica.”
Elevação
da Igreja a condição de Matriz
A cidade tem uma grande manifestação religiosa e
atendendo a suplica do povo de Canindé, cativado pela devoção a São Francisco
das Chagas, o Bispo de Pernambuco elevar a capela à categoria de Matriz Colada.
Para melhorar a estrutura da Igreja, muitas obras
foram realizadas e a antiga Capela construída por Xavier de Medeiros resistiu
até 1888, quando começaram novos trabalhos de melhorias que terminaram em 1890,
passando a chamar-se Santuário.
Vinte anos depois, o Santuário sofre nova e
substancial reforma, os frades capuchinhos fizeram uma grande empreitada
mudando a estrutura da igreja radicalmente, os trabalhos duraram cinco anos, de
1910 a 1915. Todos os trabalhos realizados até hoje no Santuário sempre foram
numa perspectiva de progresso e que não aconteceram de uma hora para outra.
A
influência na Devoção
O fenômeno das peregrinações é explicado conforme
a tradição, por três acontecimentos registrados na última etapa da construção
da igreja primitiva de Canindé. Nesses fatos, o santo vivo revelou-se
misteriosamente aos trabalhadores do templo.
O primeiro episódio refere-se à queda do pedreiro
Antonio Maciel, que trabalhava em uma das na torre da Igreja. Ele despendeu-se
casualmente de um andaime. Na ocasião do acidente, Francisco Xavier de Medeiros
pede ajuda ao Santo, obtendo resposta ao seu clamor, pois naquele vestiginoso
trajeto, Maciel ficou preso a uma tábua, pouco abaixo da janela da sineira
puxando-o dali os companheiros por meio de uma corda.
O segundo fato segundo os depoentes ocorreu com o
próprio construtor da igreja, Medeiros, que, estando sentado em uma cadeira
trabalhando um madeiro, foi atingido por uma tesoura (madeira de sustentação do
telhado). Isso se deu quando por andamento das obras buscava subir umas
tesouras, o que se fazia por um carretel. Aconteceu de escapulir uma delas e atingir-lhe
uma coxa. Todos acreditavam que a perna ficaria esmagada e logo o levaram para
a sua residência. Ao chegar a casa, não sentiu dores e continuou o serviço no
dia seguinte.
O terceiro acontecimento se deu quando abriram o
caixote em que acabara de chegar a escultura de São Francisco de Assis vinda de
Lisboa. Ao retirarem a tampa, de dentro da caixa pelou um ratinho branco e
nutrido. Estando na ocasião algumas pessoas, tentaram agarrar o pequeno animal
e por mais diligências que fizessem não conseguiram. Tendo o rato se escondido
debaixo do altar do Santo, parecia confirmar ali a revelação do lugar, na
ocasião disse Medeiros: deixem o ratinho, sabem lá que mistério é esse; pois
vindo de tão longe não ofendeu a imagem.
A
Basílica: espaço sagrado para o romeiro
Fica claro que a Basílica possui em si, a imagem
de lugar sagrado para os romeiros e por esse motivo, ela é o primeiro espaço
sagrado a ser visitado quando da chegada dos romeiros à cidade de Canindé.
A
dignidade de Basílica Menor
Em 1925, a Santa Sé Apostólica eleva o Santuário
São Francisco das Chagas à dignidade de BASÍLICA MENOR. Esta solenidade
aconteceu por ocasião do 7º Centenário da Morte de São Francisco. Dom Manuel da
Silva Gomes publica em Canindé as letras Apostólicas de Pio XI, instalando a
BASÍLICA DE SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS sendo comparada a basílicas de Santa Cruz,
Santa Maria in Trastevere em Roma\Italia.
Depois de Assis\Italia a basílica de são Francisco
das Chagas de Canindé é o santuário franciscano mais visitado do mundo.
O romeiro que frequenta a Basílica, no período da
festa, de 24 de setembro a 04 de outubro, em que há maior fluxo de romeiros,
traz consigo o desejo de reencontrar com São Francisco. A Basílica propicia
àqueles que em suas localidades exercitam a fé em São Francisco, o reencontro
com a fonte dessa fé, pois diante do altar, dentro da Basílica o romeiro toca
com suas mãos todo aquele cenário que faz parte de seu referencial. Para o
romeiro, São Francisco em sua Basílica é uma presença viva. É constante durante
os festejos vermos romeiros fazerem filas para através da fechadura e dos
buracos de uma pequena porta que serve para esconder uma das pias no interior
da Basílica.
Segundo Soares:
“O olhar que os devotos buscam é estreito,
profundo, consolador, que cura a dor e cicatriza as chagas da vida. Por isso,
sinalizam o Santo vivo, somente visível àqueles que seguem os mesmos passos na romaria
e aludem à vivificação do sagrado como sinal intercessor no convívio e na
cultura do povo de Canindé. É a forma que eles encontram para falar de si às
estruturas sociais”. (SOARES, 2001, pg 126)
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